20/10/2016

Jazz desagua na Foz [Foz Jazz]

CULTURA
SEXTA-FEIRA, 25 OUT 2002

Jazz desagua na Foz

FESTIVAL ARRANCA HOJE

Com David Murray como cabeça de cartaz, o Foz Jazz é o delfim dos festivais de jazz nacionais. Termina no próximo fim-de-semana

Foz Jazz. Assim se chama o primeiro festival de jazz realizado na Figueira Foz. O grande rio do jazz desagua na foz em dois fins-de-semana consecutivos (26, 27 e 28 deste mês e 31, 1 e 2 de Novembro). Programação boa, com um concerto único por noite.
                O quarteto de Jason Moran e Greg Osby dá hoje início ao Foz Jazz. Jason, dos pianos mais requisitados do jazz atual, tem no saxofonista Greg Osby uma espécie de irmão espiritual mais velho, sendo os seus pais espirituais, Duke Ellington, Richard "Muhal" Abrams e Andrew Hill. Free jazz e jazz escrito combinam-se na sua música. Osby tocou com Jon Faddis, Lester Young, David Murray. Com Jack DeJohnette, passa a fazer parte dos Special Edition. Gravou, entre outros, com Steve Coleman, Andrew Hill, Robin Eubanks e Cassandra Wilson e é um dos fundadores do movimento M-Base (Macro Basic Array of Structured Extemporization). Completam o quarteto Tarus Mateen (contrabaixo) e Nasheet Waits (bateria).
                Outro quarteto, liderado pelo saxofonista David Biney, atua amanhã. Eclético, moldou o jazz que faz na audição de Coltrane, Miles Davis, Bobby Hutcherson e Wayne Shorter, mas também de Hendrix, Sly Stone e Milton Nascimento. Formou os Lost Tribe e Lan Xang e a sua atividade tem alicerces fundos no jazz "downtown" de Nova Iorque, graças ao seu trabalho com Bobby Previte ou na coabitação com o jazz "lounge" mais "tudo o que a cidade tiver para oferecer", de Medeski, Martin & Wood. Integrou as orquestras de Gil Evans e de Maria Schneider. Tocou com Uri Caine e Cecil McBee. O seu jazz vai a todas, portanto. Mas, como segurança, fundou a sua própria editora – a Mythology.
                O primeiro fim-de-semana fecha no domingo, dia 27, com o Ensemble português, composto por dez elementos, do pianista Carlos Azevedo, que no "Jazz Foz" fará a estreia mundial da suite "Nogales-Cuernavaca: Uma Vida", dedicada a Charles Mingus, na celebração do 80º aniversário do seu nascimento.
                Ainda um quarteto, desta feita sob a liderança do baterista Al Foster, abre o segundo ciclo de concertos do "Jazz Foz" (dia 31). Miles Davis escolheu-o nos anos 70 para substituir Jack DeJohnette porque, dizia, "tinha um swing, um bom gosto e um sentido de oportunidade palpáveis". Compreende-se. Foster estudou por Max Roach e tocou com alguns dos monstros do jazz – Sonny Rollins, McCoy Tyner, Ron Carter, Joe Henderson, Cannonbal Adderley, Freddie Hubbard, Herbie Hancock... – até regressar de novo a Miles, que acompanhou praticamente até à morte do trompetista, em 1991.
                Na sexta, dia 1, é a vez do Abraham Burton - Steve Davis Quintet. Burton, saxofonista tenor, herdeiro de Parker, Lester Young, Coleman Hawkins e Coltrane, gravou para a Enja discos como "Closest to the Sun", "The Magician" e "Cause and Effect". Davis, considerado um dos "mais interessantes e imaginativos trombonistas da sua geração" pela revista "Down Beat", é versátil ao ponto de repartir a sua atividade por gente como Jackie McLean, Lionel Hampton, Woody Herman, Elvin Jones, os Jazz Messengers de Art Blakey e Chick Corea, juntando igualmente esforços às "big bands" New Jazz Composers Octet, Dizzy Gillespie Alumini All Stars Big Band, Carnegie Hall Big Band e World of Trombones. Orrin Evans, da escuderia Palmetto, é o pianista de serviço.
                O Foz Jazz fecha, Domingo, dia 2, com uma estrela, das que mais vezes tem brilhado nos palcos nacionais: David Murray, um dos maiores saxofonistas e improvisadores da atualidade, que virá acompanhado por Lafayette Gildchrist (piano), Jaribu Shahid (contrabaixo) e Hamid Drake (bateria). Formado na convivência de faróis do "free jazz", como Cecil Taylor, Anthony Braxton, Sunny Murray, Don Cherry ou Lester Bowie, David Murray é uma das mais poderosas e imaginativas vozes solistas da atualidade, quer integrado no World Saxophone Quartet, com Julius Hemphill, outro dos grandes saxofonistas contemporâneos, quer na sua extensa e diversificada discografia que tem gravada em nome próprio. O seu grito, solto das profundezas do "free", nunca se confunde com o caos, revelando antes uma forma exacerbada de lirismo. Porque, convém também referi-lo, além de instigador de combates, David Murray é um notável intérprete de baladas. Dos vivos, provavelmente o melhor.

Jason Moran-Greg Osby Quartet
FIGUEIRA DA FOZ Auditório do Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz.
Hoje, às 21h30. Tel. 233407200.
Bilhetes a 15 euros (simples) e 60 euros (assinatura p/os seis concertos).

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