CULTURA
SEXTA-FEIRA,
25 OUT 2002
Jazz desagua na Foz
FESTIVAL
ARRANCA HOJE
Com
David Murray como cabeça de cartaz, o Foz Jazz é o delfim dos festivais de jazz
nacionais. Termina no próximo fim-de-semana
Foz Jazz. Assim se chama o primeiro festival de jazz
realizado na Figueira Foz. O grande rio do jazz desagua na foz em dois
fins-de-semana consecutivos (26, 27 e 28 deste mês e 31, 1 e 2 de Novembro).
Programação boa, com um concerto único por noite.
O
quarteto de Jason Moran e Greg Osby dá hoje início ao Foz Jazz. Jason, dos pianos
mais requisitados do jazz atual, tem no saxofonista Greg Osby uma espécie de
irmão espiritual mais velho, sendo os seus pais espirituais, Duke Ellington,
Richard "Muhal" Abrams e Andrew Hill. Free jazz e jazz escrito
combinam-se na sua música. Osby tocou com Jon Faddis, Lester Young, David
Murray. Com Jack DeJohnette, passa a fazer parte dos Special Edition. Gravou,
entre outros, com Steve Coleman, Andrew Hill, Robin Eubanks e Cassandra Wilson
e é um dos fundadores do movimento M-Base (Macro Basic Array of Structured
Extemporization). Completam o quarteto Tarus Mateen (contrabaixo) e Nasheet
Waits (bateria).
Outro
quarteto, liderado pelo saxofonista David Biney, atua amanhã. Eclético, moldou
o jazz que faz na audição de Coltrane, Miles Davis, Bobby Hutcherson e Wayne
Shorter, mas também de Hendrix, Sly Stone e Milton Nascimento. Formou os Lost
Tribe e Lan Xang e a sua atividade tem alicerces fundos no jazz
"downtown" de Nova Iorque, graças ao seu trabalho com Bobby Previte
ou na coabitação com o jazz "lounge" mais "tudo o que a cidade
tiver para oferecer", de Medeski, Martin & Wood. Integrou as
orquestras de Gil Evans e de Maria Schneider. Tocou com Uri Caine e Cecil
McBee. O seu jazz vai a todas, portanto. Mas, como segurança, fundou a sua
própria editora – a Mythology.
O
primeiro fim-de-semana fecha no domingo, dia 27, com o Ensemble português,
composto por dez elementos, do pianista Carlos Azevedo, que no "Jazz
Foz" fará a estreia mundial da suite "Nogales-Cuernavaca: Uma
Vida", dedicada a Charles Mingus, na celebração do 80º aniversário do seu
nascimento.
Ainda
um quarteto, desta feita sob a liderança do baterista Al Foster, abre o segundo
ciclo de concertos do "Jazz Foz" (dia 31). Miles Davis escolheu-o nos
anos 70 para substituir Jack DeJohnette porque, dizia, "tinha um swing, um
bom gosto e um sentido de oportunidade palpáveis". Compreende-se. Foster
estudou por Max Roach e tocou com alguns dos monstros do jazz – Sonny Rollins,
McCoy Tyner, Ron Carter, Joe Henderson, Cannonbal Adderley, Freddie Hubbard,
Herbie Hancock... – até regressar de novo a Miles, que acompanhou praticamente
até à morte do trompetista, em 1991.
Na
sexta, dia 1, é a vez do Abraham Burton - Steve Davis Quintet. Burton,
saxofonista tenor, herdeiro de Parker, Lester Young, Coleman Hawkins e
Coltrane, gravou para a Enja discos como "Closest to the Sun",
"The Magician" e "Cause and Effect". Davis, considerado um
dos "mais interessantes e imaginativos trombonistas da sua geração"
pela revista "Down Beat", é versátil ao ponto de repartir a sua
atividade por gente como Jackie McLean, Lionel Hampton, Woody Herman, Elvin
Jones, os Jazz Messengers de Art Blakey e Chick Corea, juntando igualmente esforços
às "big bands" New Jazz Composers Octet, Dizzy Gillespie Alumini All
Stars Big Band, Carnegie Hall Big Band e World of Trombones. Orrin Evans, da
escuderia Palmetto, é o pianista de serviço.
O Foz
Jazz fecha, Domingo, dia 2, com uma estrela, das que mais vezes tem brilhado
nos palcos nacionais: David Murray, um dos maiores saxofonistas e
improvisadores da atualidade, que virá acompanhado por Lafayette Gildchrist
(piano), Jaribu Shahid (contrabaixo) e Hamid Drake (bateria). Formado na
convivência de faróis do "free jazz", como Cecil Taylor, Anthony
Braxton, Sunny Murray, Don Cherry ou Lester Bowie, David Murray é uma das mais
poderosas e imaginativas vozes solistas da atualidade, quer integrado no World
Saxophone Quartet, com Julius Hemphill, outro dos grandes saxofonistas
contemporâneos, quer na sua extensa e diversificada discografia que tem gravada
em nome próprio. O seu grito, solto das profundezas do "free", nunca
se confunde com o caos, revelando antes uma forma exacerbada de lirismo.
Porque, convém também referi-lo, além de instigador de combates, David Murray é
um notável intérprete de baladas. Dos vivos, provavelmente o melhor.
Jason Moran-Greg Osby Quartet
FIGUEIRA DA FOZ Auditório do Centro de
Artes e Espetáculos da Figueira da Foz.
Hoje, às 21h30. Tel. 233407200.
Bilhetes a 15 euros (simples) e 60 euros
(assinatura p/os seis concertos).
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