CULTURA
DOMINGO, 28 ABR
2002
Dois
fins-de-semana de “World Music” no Seixal
Marlui Miranda no XIII Cantigas
do Maio
Treze é o número de ficha de 2002
do festival Cantigas do Maio, membro do European Forum of Worldwide Music
Festivals, já um "ex libris" da vila do Seixal e iniciativa
obrigatória no panorama nacional das músicas do mundo.
As XIII Cantigas do Maio decorrem
este ano, à semelhança dos anteriores, em dois fins-de-semana consecutivos, a
23, 24 e 25 de Maio e, uma semana depois, a 30 e 31 de Maio e 1 de Junho. O
programa tem como principal destaque o espetáculo, que se prevê tão exótico
como grandioso, da cantora brasileira Marlui Miranda. Marlui, voz que faz a
síntese das forças da selva amazónica e da contemporaneidade, atua a 1 de
Junho, num concerto dividido em três partes que contará com a participação da
Camerata Atheneum e de três músicos convidados. Na primeira delas será
apresentada a missa indígena "Kewere" ("Rezar"), com base
em temas dos índios Aruá, Tupari e Urubu-Kaapor. Na segunda, a Camerata
Atheneum interpretará temas de compositores brasileiros do séc. XX, de Villa-Lobos
a Tom Jobim. A terceira será preenchida pela peça "Ihu" ("Todos
os Sons", na língua dos índios Kamayurá), gravada em 1995 para a editora
Pau Brasil, contando-se entre os convidados, Gilberto Gil e o grupo Uakti.
Além de
Marlui Miranda, o Cantigas do Maio traz este ano ao Seixal dois dos mais importantes
grupos da folk europeia atual, os Berrogüetto, da Galiza, e os Gjallarhorn, da
Finlândia. Os Berrogüetto representam a face mais experimentalista e inovadora
da folk galega, sob a liderança do multinstrumentista Anxos Pinto. O novo
álbum, intitulado "Hepta" ("sete", em grego), inspirou-se
numa exposição do artista Georges Rousse (concretamente, uma intervenção gráfica
numa casa rural em ruínas), transportando a folk galega para sinestesias que
remetem para a arquitetura ritual e o esoterismo.
Gjallarhorn
é, na mitologia nórdica, o nome do chifre com que o guardião Heimdal enviava as
mensagens dos deuses de Asgärd para os humanos. "Gjala" é
"grito" "canto", e o novo álbum desta banda onde pontifica
a voz da cantora Jenny Wilhelms, intitulado "Sjofn", faz jus a esta
dicotomia, juntando a energia pagã dos Hedningarna a um lirismo delicado.
Outros nomes
agendados para o palco principal do festival, como habitualmente a Fábrica
Mundet, são o executante de guitarra clássica Alexandre Bateiras, o grupo vocal
algarvio Moçoilas, grupo de percussões sob a batuta de Rui Júnior, O Ó Que Som
Tem (todos portugueses), os italianos Zoè, imbuídos dos ritmos e do transe da
"pizzica", Ali Akbar Moradi, um virtuose do tanbur, natural do
Curdistão, o cantor turco Birol Topaloglu, e as norte-americanas Ulali, para
cantarem a música dos índios que outrora habitavam a Carolina do Norte.
Mas mais
música animará o Seixal durante estes dois fins-de-semana uma vez que,
cumprindo uma tradição que se repete ano após ano, as ruas e a tenda-convívio
instalada nas imediações da Fábrica Mundet acolhem outros artistas, menos
conhecidos, é certo, mas cujo entusiasmo tem provado ser vital para a
manutenção do ambiente e da mística do Cantigas do Maio.
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