19/10/2016

Dois fins-de-semana de “World Music” no Seixal [XIII Cantigas do Maio]

CULTURA
DOMINGO, 28 ABR 2002

Dois fins-de-semana de “World Music” no Seixal

Marlui Miranda no XIII Cantigas do Maio

Treze é o número de ficha de 2002 do festival Cantigas do Maio, membro do European Forum of Worldwide Music Festivals, já um "ex libris" da vila do Seixal e iniciativa obrigatória no panorama nacional das músicas do mundo.
            As XIII Cantigas do Maio decorrem este ano, à semelhança dos anteriores, em dois fins-de-semana consecutivos, a 23, 24 e 25 de Maio e, uma semana depois, a 30 e 31 de Maio e 1 de Junho. O programa tem como principal destaque o espetáculo, que se prevê tão exótico como grandioso, da cantora brasileira Marlui Miranda. Marlui, voz que faz a síntese das forças da selva amazónica e da contemporaneidade, atua a 1 de Junho, num concerto dividido em três partes que contará com a participação da Camerata Atheneum e de três músicos convidados. Na primeira delas será apresentada a missa indígena "Kewere" ("Rezar"), com base em temas dos índios Aruá, Tupari e Urubu-Kaapor. Na segunda, a Camerata Atheneum interpretará temas de compositores brasileiros do séc. XX, de Villa-Lobos a Tom Jobim. A terceira será preenchida pela peça "Ihu" ("Todos os Sons", na língua dos índios Kamayurá), gravada em 1995 para a editora Pau Brasil, contando-se entre os convidados, Gilberto Gil e o grupo Uakti.
Além de Marlui Miranda, o Cantigas do Maio traz este ano ao Seixal dois dos mais importantes grupos da folk europeia atual, os Berrogüetto, da Galiza, e os Gjallarhorn, da Finlândia. Os Berrogüetto representam a face mais experimentalista e inovadora da folk galega, sob a liderança do multinstrumentista Anxos Pinto. O novo álbum, intitulado "Hepta" ("sete", em grego), inspirou-se numa exposição do artista Georges Rousse (concretamente, uma intervenção gráfica numa casa rural em ruínas), transportando a folk galega para sinestesias que remetem para a arquitetura ritual e o esoterismo.
Gjallarhorn é, na mitologia nórdica, o nome do chifre com que o guardião Heimdal enviava as mensagens dos deuses de Asgärd para os humanos. "Gjala" é "grito" "canto", e o novo álbum desta banda onde pontifica a voz da cantora Jenny Wilhelms, intitulado "Sjofn", faz jus a esta dicotomia, juntando a energia pagã dos Hedningarna a um lirismo delicado.
Outros nomes agendados para o palco principal do festival, como habitualmente a Fábrica Mundet, são o executante de guitarra clássica Alexandre Bateiras, o grupo vocal algarvio Moçoilas, grupo de percussões sob a batuta de Rui Júnior, O Ó Que Som Tem (todos portugueses), os italianos Zoè, imbuídos dos ritmos e do transe da "pizzica", Ali Akbar Moradi, um virtuose do tanbur, natural do Curdistão, o cantor turco Birol Topaloglu, e as norte-americanas Ulali, para cantarem a música dos índios que outrora habitavam a Carolina do Norte.
Mas mais música animará o Seixal durante estes dois fins-de-semana uma vez que, cumprindo uma tradição que se repete ano após ano, as ruas e a tenda-convívio instalada nas imediações da Fábrica Mundet acolhem outros artistas, menos conhecidos, é certo, mas cujo entusiasmo tem provado ser vital para a manutenção do ambiente e da mística do Cantigas do Maio.

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