JAZZ
DISCOS
PÚBLICO
5 OUTUBRO 2002
Voodoo
Jazz
Herdeiro espiritual de Duke
Ellington, Gil Evans (1912-1988) terá sido de entre todos os líderes de “big
bands” aquele para quem a orquestra era o mais complexo dos instrumentos
musicais. Evans era de igual modo o arquiteto e construtor de territórios
orquestrais propícios ao discurso individual de solistas como Miles Davis, com
quem encetou várias colaborações nas décadas de 40 e 50.
O
“projeto Hendrix” teve precisamente Miles como intermediário que por várias
vezes transmitiu ao guitarrista o interesse do orquestrador pela sua música. Na
Primavera de 1970, Alan Douglas, engenheiro de som de Handrix, tomou a seu
cargo a concretização do projeto. Fizeram-se planos.
Porém,
a 18 de Setembro de 1970, uma “overdose” pôs fim à vida de Jimi Hendrix, uma
semana antes dos primeiros preparativos, abortando assim o que poderia ter sido
um dos mais excitantes e produtivos encontros da música popular do séc. XX.
Mas
Gil Evans não desistiu. A 3 de Junho de 1974, a Orquestra apresentava no
Carnegie Hall de Nova Iorque, a música do malogrado guitarrista, num concerto
de homenagem. Alguns dias mais tarde entrava em estúdio, com os mesmos músicos,
para gravar o disco que ficaria para a história como “The Gil Evans Orchestra Plays
the Music of Jimi Hendrix”, agora finalmente objeto de remasterização, com a
indicação em cada faixa do “take” utilizado, e a inserção de versões
alternativas de “Little wing”, “Angel”, “Castles made from sand”, “Up from the
skies” e “Gypsy eyes”.
“Plays the Music of Jimi Hendrix” será
provavelmente um álbum mais querido dos apreciadores de rock do que dos amantes
de jazz. Evans tornou-se mesmo um guru do rock progressivo e um álbum como
“There Comes a Time”, onde é notória a fusão de jazz e rock, influenciou uma
das obras marcantes do jazz rock inglês dos anos 70, “Kaleidoscope of
Rainbows”, de Neil Ardley (1976).
Talvez mais ainda do que os
“Hendrix addicts” serão os fãs de bandas como os Chicago ou Blood, Sweat ant
Tears (o trompetista Lew Soloff chegaria mesmo a entrar para este grupo...) a
rejubilar com o “punch” rockeiro dos sopros e a melodia sinuosa do
sintetizador, a abrir o álbum, com “Angel”. E se “Crosstown traffic” poderia
ser Hendrix ele próprio, o resto do disco mergulha em profundidade na
complexidade formal do universo do orquestrador, mais do que no fogo
hendrixiano (“Castles made from sand”/”Foxy music”, “Up from the skies”) antes
da síntese final de rock, funk e jazz de “1983-A Merman I should turn to see”,
“Voodoo chile” e “Gypsy eyes”.
Aqui para nós, que ninguém nos
ouve, os puristas do jazz devem detestar.
THE GIL EVANS ORCHESTRA
Plays the Music of Jimi Hendrix
9|10
RCA Victor, distri. BMG
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