CULTURA
SEXTA-FEIRA, 8 FEV 2002
Kepa Junkera
abre “Cimeira do Fole” em Águeda
O músico basco apresenta o novo
álbum, “Maren”, um arquipélago mágico varrido pelos tornados da trikitixa e
forjado no vulcão da txalaparta
A trikitixa
(acordeão, em basco) de Kepa Junkera é um armazém de memórias mas também de
surpresas que o futuro tem reservado. E uma máquina explosiva de onde a energia
jorra aos borbotões. O músico basco, que já por várias vezes deixou tonto o
público português com o seu virtuosismo, tornou-se um “habitué” do nosso país
(os dedos de uma mão não chegam para contar as visitas que fez a Portugal), mas
a verdade é que a qualidade da música e a dimensão espetacular que imprime aos
seus espetáculos têm o condão de entusiasmar qualquer assistência.
Desta feita, Kepa traz a Portugal o
reportório do seu álbum mais recente, “Maren”, debruçado sobre o mar e as suas
histórias. Depois de ter atuado ontem em Lisboa, no Festival das Músicas e dos
Portos, cuja temática deste ano é, precisamente, o mar, Kepa abre hoje à noite,
em Águeda, a “Cimeira do Fole”.
A questão geográfica (existe mesmo
no livrete do CD o desenho de um mapa imaginário de uma Europa unificada) é
abordada por Kepa Junkera: “Embora nunca tenha composto exclusivamente para um
lugar, é importante criar um símbolo que, neste caso, se centra na localidade
de Urdaibai [também o título de uma das faixas mais belas do disco], a cerca de
45 quilómetros de Bilbau. É uma reserva da biosfera e uma região por onde
passaram muitas culturas, os celtas, os romanos, os vikings…”. Depois de
Bilbau, zona industrial, o mar, “por onde o povo basco navegou e através do
qual recebeu muita gente”.
À semelhança do álbum anterior,
“Bilbao 00:00H”, Kepa Junkera rodeou-se neste disco de uma constelação de
estrelas da “world music” da qual fazem parte Hevia, Gilles Chabenat, Juan
Manuel Cañizares, Glen Velez, Maria del Mar Bonnet, Hughes de Courson e Justin
Vali, além de um grupo de vozes búlgaras e de um quarteto de cordas. Em Águeda,
o acordeonista basco atuará inserido num contexto mais discreto, acompanhado
pelo seu grupo habitual, em que, uma vez mais, deixarão marcas as proezas
percussivas, a quatro mãos, do par Igor Otxoa e Harkaitz Martinez, na
txalaparta (quem ainda não sabe de que instrumento se trata, ficará
surpreendido com o mundo de sons que um tronco de madeira tem para oferecer…).
Como em “Bilbao 00:00H”, cada tema
de “Maren” poderia dar origem a um mundo musical autónomo. Disto mesmo tem
consciência o seu autor, para quem a angústia está em não poder explorar ao
máximo todas estas possibilidades (“tenho que resistir para não lançar um álbum
novo todos os meses”). “Podia fazer um projeto com o Glen Velez ou com as vozes
búlgaras, por exemplo, também adorava gravar um disco inteiro com os La Bottine
Souriante”.
Além de “Bilbao 00:00H” e “Maren”, a
música de Kepa Junkera pode ser ouvida em álbuns como “Trikitixa Zoom”, “Trans
Europe Diatonique” (com Riccardo Tesi), “Lau Eskutara” (com Júlio Pereira) e
“Leonen Orroak” (com Ibon Koteron). Mas é ao vivo que a sua trikitixa se
incendeia como uma fogo-de-artifício. Uma música tão poderosa como o rock,
seria capaz de levar ao rubro um estádio cheio. Mas Kepa prefere estar próximo
das pessoas e que as pessoas se sintam próximas dele: “Gosto que o meu suor
chegue ao público”.
Kepa Junkera
ÁGUEDA
Cine-Teatro
S. Pedro.
Tel.: 234603164.
Às 22h.
Bilhetes a 8 euros.
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