25/10/2016

Kepa Junkera abre "Cimeira do Fole" em Águeda

CULTURA
SEXTA-FEIRA, 8 FEV 2002

Kepa Junkera abre “Cimeira do Fole” em Águeda

O músico basco apresenta o novo álbum, “Maren”, um arquipélago mágico varrido pelos tornados da trikitixa e forjado no vulcão da txalaparta

A trikitixa (acordeão, em basco) de Kepa Junkera é um armazém de memórias mas também de surpresas que o futuro tem reservado. E uma máquina explosiva de onde a energia jorra aos borbotões. O músico basco, que já por várias vezes deixou tonto o público português com o seu virtuosismo, tornou-se um “habitué” do nosso país (os dedos de uma mão não chegam para contar as visitas que fez a Portugal), mas a verdade é que a qualidade da música e a dimensão espetacular que imprime aos seus espetáculos têm o condão de entusiasmar qualquer assistência.
            Desta feita, Kepa traz a Portugal o reportório do seu álbum mais recente, “Maren”, debruçado sobre o mar e as suas histórias. Depois de ter atuado ontem em Lisboa, no Festival das Músicas e dos Portos, cuja temática deste ano é, precisamente, o mar, Kepa abre hoje à noite, em Águeda, a “Cimeira do Fole”.
            A questão geográfica (existe mesmo no livrete do CD o desenho de um mapa imaginário de uma Europa unificada) é abordada por Kepa Junkera: “Embora nunca tenha composto exclusivamente para um lugar, é importante criar um símbolo que, neste caso, se centra na localidade de Urdaibai [também o título de uma das faixas mais belas do disco], a cerca de 45 quilómetros de Bilbau. É uma reserva da biosfera e uma região por onde passaram muitas culturas, os celtas, os romanos, os vikings…”. Depois de Bilbau, zona industrial, o mar, “por onde o povo basco navegou e através do qual recebeu muita gente”.
            À semelhança do álbum anterior, “Bilbao 00:00H”, Kepa Junkera rodeou-se neste disco de uma constelação de estrelas da “world music” da qual fazem parte Hevia, Gilles Chabenat, Juan Manuel Cañizares, Glen Velez, Maria del Mar Bonnet, Hughes de Courson e Justin Vali, além de um grupo de vozes búlgaras e de um quarteto de cordas. Em Águeda, o acordeonista basco atuará inserido num contexto mais discreto, acompanhado pelo seu grupo habitual, em que, uma vez mais, deixarão marcas as proezas percussivas, a quatro mãos, do par Igor Otxoa e Harkaitz Martinez, na txalaparta (quem ainda não sabe de que instrumento se trata, ficará surpreendido com o mundo de sons que um tronco de madeira tem para oferecer…).
            Como em “Bilbao 00:00H”, cada tema de “Maren” poderia dar origem a um mundo musical autónomo. Disto mesmo tem consciência o seu autor, para quem a angústia está em não poder explorar ao máximo todas estas possibilidades (“tenho que resistir para não lançar um álbum novo todos os meses”). “Podia fazer um projeto com o Glen Velez ou com as vozes búlgaras, por exemplo, também adorava gravar um disco inteiro com os La Bottine Souriante”.
            Além de “Bilbao 00:00H” e “Maren”, a música de Kepa Junkera pode ser ouvida em álbuns como “Trikitixa Zoom”, “Trans Europe Diatonique” (com Riccardo Tesi), “Lau Eskutara” (com Júlio Pereira) e “Leonen Orroak” (com Ibon Koteron). Mas é ao vivo que a sua trikitixa se incendeia como uma fogo-de-artifício. Uma música tão poderosa como o rock, seria capaz de levar ao rubro um estádio cheio. Mas Kepa prefere estar próximo das pessoas e que as pessoas se sintam próximas dele: “Gosto que o meu suor chegue ao público”.

Kepa Junkera
ÁGUEDA Cine-Teatro
S. Pedro. Tel.: 234603164.
Às 22h. Bilhetes a 8 euros.

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