CULTURA
DOMINGO, 14 ABR
2002
Luar na
Lubre
O sorriso da
lua em concerto na Aula Magna
Folk e classicismo por uma das bandas mais
importantes da música da Galiza. Para ver esta noite, em Lisboa.
Luar na Lubre. A luz da lua sobre a lubre, antigo lugar celta,
palco de rituais que incendeiam a imaginação. Mistério. Embora a música do
grupo folk galego Luar na Lubre já fosse mais misteriosa do que é hoje, o
espetáculo que vão dar esta noite na Aula Magna da Reitoria da Universidade de
Lisboa (segundo em Portugal, depois de uma passagem pelo Intercéltico) não terá
por isso menos encantamento e permitirá verificar as razões que colocam a banda
no pódio dos mais importantes grupos folk da Galiza, logo a seguir aos
Milladoiro.
Já houve mais
mistério, é verdade, quando os Luar na Lubre esvoaçavam em silêncio sobre os
bosques frondosos (a “lubre” onde os druidas cozinhavam as suas poções e
entrelaçavam a música com a Natureza) ou sobre a entrada no mar do lado de lá
que é Finisterra, em álbuns como “O Son do Ar”, “Beira-Atlântica” e
“Ara-Solis”. Mas as sombras e os murmúrios continuam a estar presentes, só que
mais dissimulados por um som que pretende dar a conhecer-se ao mundo.
Com a passagem
para a multinacional Warner, a promoção, se lhes retirou um pedaço de segredo,
não chegou, porém, para desmanchar uma música que permanece como das mais belas
com raiz nas tradições da região celta da Península Ibérica. “Plenilunio” e
“Cabo do Mundo” são testemunhos deste sorriso mais largo e claro que ilumina o
novo rosto dos Luar na Lubre, cujo álbum mais recente é a antologia “Lo Mejor
de Luar na Lubre: XV Aniversário”, celebração, como o título indica, de uma já
longa e honrosa carreira. Carreira que a dado momento se cruzou com a de Mike
Oldfield, que se tornou um fã da banda e gravou, inclusive, uma versão da
canção “O son do ar”.
Sobretudo o rosto
moreno de Rosa Cedrón, vocalista e violoncelista do grupo, irradia um brilho
especial. É ela a lua de uma formação de oito músicos onde pontifica a direção
musical, a gaita-de-foles, o acordeão e a sanfona de Bieito Romero. Estiveram
ambos em Lisboa para promover a coletânea de aniversário.
Bieito é a
sabedoria, o teórico consciente das origens, capaz de ficar a conversar durante
horas sobre técnicas de construção de gaitas-de-foles ou da necessidade de se
afastar periodicamente do bulício das digressões e deixar a alma repousar em
frente à lareira da velha casa situada em La Corunha, onde os Luar na Lubre
nasceram e com a qual continuam a alimentar a sua música. “É preciso ter um
Norte, não perder a perspetiva, saber exatamente onde se tem os pés e a cabeça,
onde habita a alma. Somos os embaixadores de um povo, o galego, mas a nossa
música pode ser entendida em qualquer parte do mundo”, diz Bieito Romero, para
quem os Luar na Lubre, apesar da sua costela mais regionalista, já adquiriram
uma “dimensão internacional”.
Rosa tem os
olhos, o cabelo negro e a figura longilínea de uma feiticeira. Fala menos do
que Bieito. Da sua atividade paralela na música clássica, das afinidades do seu
canto com a música portuguesa, da intuição, da forma como o seu canto nasce e
se apruma em voo de pomba.
Da música clássica à tradicional
Como os Milladoiro, os Luar na Lubre primam pelo apuro formal de
uma sonoridade que, segundo Bieito Romero, “funde matizes da música clássica
com a tradicional”. Apesar de considerar que as multinacionais têm o hábito de
pressionar os artistas, Bieito Romero sente-se feliz por isso não acontecer com
os Luar na Lubre, embora admita que, da fase antiga para a fase mais recente,
os arranjos musicais sofreram algumas modificações, no sentido de tornarem a
música acessível a uma fatia maior de público. O que, na sua opinião, se deve a
uma melhoria de condições: “’Ara-Solis’ foi gravado em cem horas. ‘Plenilunio’
demorou um mês. Pudemos fazer tudo melhor, melhorar o som, a forma de entender
as coisas… E agora não temos que pagar as horas de estúdio, de andar a correr
para poupar nos horários!...”.
“Lo Mejor de Luar
na Lubre: XV Aniversário” inclui os inéditos “Camariñas”, “Grial” (com a
participação dos irmãos José Angel e Maria José Hevia) e “Terra”, e uma nova
mistura de “Tu gitana”, de José Afonso, com o cantor convidado Pablo Milanés.
Esta noite, na
Aula Magna, além do reportório antigo, os Luar na Lubre apresentam temas do seu
próximo álbum, “Espiral”, com edição prevista para breve. A linha da evolução
que os celtas conheciam e deixaram gravada nas pedras e no fundo da nossa
memória.
Luar na Lubre
LISBOA Aula Magna.
Tel.: 217967624. Às 21h.
Bilhetes a 10 euros.
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